
Neste 23/8, completam-se dez anos da chacina na Cadeia de Ponte Nova, com saldo de 25 detentos carbonizados. Como consta em manifesto da Pastoral Carcerária enviado a esta FOLHA, o maior motim com mortes em presídios em Minas Gerais – e a terceira maior tragédia do sistema prisional do Brasil – “gerou dor, revolta, indignação e humilhação em muitas famílias”.
Aderindo à agenda que a Pastoral Carcerária prepara para a próxima semana, reservamos este espaço para o manifesto, o qual lembra que o arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio, celebrou, em PN, em 29/8/2007, Missa de Sétimo Dia e, indignado, referiu-se ao sistema prisional como uma “verdadeira chaga” da sociedade brasileira.
Ele alertou sobre a falta de fraternidade e “de uma política séria. Não basta que o preso seja castigado, é preciso que ele seja reeducado, para que tenha condição de viver uma vida social saudável”, afirmou o arcebispo lamentando que “os cárceres se tornaram uma escola superior de crimes, onde os detentos saem piores do que entram”.
Em seu texto, a Coordenação da Pastoral Carcerária refere-se à revolta das famílias enlutadas, considerando a superlotação do presídio e a falta de vagas para transferência dos detentos, as quais só apareceram, após a tragédia, para os reclusos sobreviventes.
“Dez anos se passaram, e continuam faltando, no Brasil, uma justiça séria, solidariedade, atenção aos marginalizados e aos mais fracos”, prossegue o texto com uma certeza: “Aquela tragédia não deve nem pode ser esquecida. Foi uma ação premeditada, urdida e de terríveis impactos sociais, cujos efeitos podem estender-se a outra ou outras gerações.”
O manifesto prega a “busca incessante da conscientização política”, rechaça “a instrumentalização da pobreza – um crime, que, mantido, só gera violência” – e defende a luta contra a ganância governamental”, a qual indica a necessidade de mobilização pela “eleição de representantes dignos e honestos”.
Noutro trecho, o texto conclama: “Nunca nos esqueçamos de que as prisões e a saúde pública, em estado de calamidade, só geram mais desigualdade, fome e falta de emprego, geram revolta e impulsionam a violência e o crime.”
Pedindo perdão a Deus “pelas famílias que perderam seus entes queridos que pagaram com a própria vida a falta de política pública responsável”, a Pastoral Carcerária deixa três perguntas: “A ferida cicatrizou-se? A dor diminuiu? A justiça aconteceu?”