O discurso incisivo do padre Wander Torres, na Sexta-Feira Santa (leia na página 3) não constitui fato isolado neste ano.

Religiosos em geral e a cúpula da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil/CNBB reservam o tempo da Quaresma para conscientizar os fiéis católicos contra o “desmonte’ do Estado Social patrocinado pelo Governo do presidente Michel Temer/PMDB.
Na preparação de textos e campanhas, sobressai a posição de teólogos de que é papel da Igreja promover o diálogo – e atuar na conscientização geral – sobre medidas previstas e/ou já impostas aos brasileiros.
Não por acaso, no final de março, a Conferência divulgou nota contra a Reforma da Previdência, posicionando-se ao lado de sindicatos, centrais sindicais e entidades nacionais, a exemplo da Ordem dos Advogados do Brasil/OAB.
A entidade convoca os cristãos – e a opinião pública em geral – para tomarem consciência sobre as mensagens bíblicas, com a reflexão em torno delas transformando-se em oportunidade “para levantar a voz em defesa dos sofredores, dos traídos, dos crucificados, das vítimas em geral de um sistema excludente”.
O raciocínio que domina os debates é provocante: nestes tempos em que boa parte do arcabouço de providências visa enfraquecer o movimento sindical e deixa os trabalhadores em geral cada vez mais submissos – via Congresso Nacional – aos interesses patronais, instituições com credibilidade devem destacar-se tendo, como ponto de partida principal, a defesa dos direitos sociais e humanos, dando – dentro desse campo – efetiva prioridade aos pobres.
De fato, na prática, como avaliam os analistas, os principais afetados pela Reforma da Previdência são os trabalhadores – incluindo os aposentados -, sobre os quais pesa o ônus de um problema sério brasileiro, mas sem que se abram, nas fileiras governamentais, uma frente contra a sonegação de impostos e o combate rigoroso à corrupção, só para citar dois exemplos.
Na prática, entretanto, a sociedade precisa participar do debate, buscar a consciência através da educação civil e da formação política. Estas duas referências são especialmente complexas diante da realidade, que nos mostra boa parte da população alienada em função da baixa escolaridade e da falta de acesso à informação.
Este é o dilema contemporâneo, a ser encarado com esperança e resistência em favor do interesse da maioria dos brasileiros.