“Quem ama não mata.” Essa óbvia – e cada vez mais atual – afirmativa implica, rotineiramente, o trágico destino de muitas mulheres assassinadas por aqueles com os quais têm ou tiveram relacionamento afetivo.

Além dos maus-tratos e abusos, físicos e psicológicos, componentes do ciclo de violência imposto pelo machismo histórico, fica patente, a cada tragédia – como a de 5/6, em Ponte Nova – a dura face da violência de gênero, que, via de regra, não se restringe ao ambiente doméstico.
Os tiros em Patrícia Riqueira Roberto da Cruz (leia na página 17) indicam a manutenção da desigualdade histórica entre os gêneros, o que abre espaço para a coisificação das mulheres, tornando-as objeto do sujeito masculino.
É triste tal constatação nestes tempos de avanço na extinção do famigerado conceito, pelo qual a organização social patriarcal rotulava de “segundo sexo” a condição da mulher.
A ocorrência mostra o quanto ainda teremos de evoluir – na educação e no convívio em geral – para “desconstruirmos” práticas que produzem e reproduzem o poder dos homens sobre as mulheres, ao mesmo tempo em que violam os direitos sociais delas.
Não por acaso, o Coletivo de Mulheres Benditas divulgou, em sua página nas redes sociais, manifesto ressaltando que não se trata de mais um “caso passional” e, sim, de feminicídio tipificado em lei federal, considerando o assassinato de mulheres em razão do gênero como sendo homicídio qualificado, um crime hediondo.
O manifesto requer que a Imprensa enfatize o feminicídio, ao invés de crime passional, e protesta: “Temos um Executivo e um Legislativo calados, omissos, fugindo de suas responsabilidades e que não lançaram uma nota de pesar sequer.”
Efetivamente, assistimos a mais uma cena de extermínio, e o episódio deve forçar reflexões sobre o patriarcado como pai de muitos males, por perpetuar uma cultura secularmente hostil às mulheres. Não por acaso, a Organização Mundial da Saúde enquadra o crime de agressão e assassinato de mulheres como “um problema de saúde pública mundial de proporções epidêmicas”.
A realidade do feminicídio – como dizem os estudiosos do tema – implica elaboração e implementação de políticas públicas, reformas legislativas e melhoria dos serviços jurídicos e de atenção, bem como de monitoramento sistemático de circunstâncias que revelem a violência de gênero. Fica o registro.