Um antigo provérbio chinês diz o seguinte: “Não há paz no mundo sem paz entre os povos; não há paz entre os povos, sem paz nas famílias; não há paz nas famílias sem a paz em mim; e não há paz em mim sem paz com Deus.”
O provérbio foi usado, na semana passada, por porta-vozes da Campanha da Fraternidade/CF de 2018, cujo tema é “Fraternidade e superação da violência” , pela amplitude do desafio imposto pelo dito chinês e por conta da realidade que choca a opinião pública.
Em Ponte Nova, tivemos, em datas recentes, exemplos de crueldade que dizimam vidas tanto em atentados e em acidentes, quanto na rotina do tráfico de drogas e por outros motivos que minimizam os valores que norteiam a preservação da vida (leia nas páginas 12, 13 e 14).
Com esta perspectiva bárbara, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil abriu a CF/2018, incluindo, entre as reflexões, a noção de guerra nos padrões convencionais, digamos assim, e no clima de desigualdade e opressão. Assim diz o livro da Doutrina Social da Igreja Católica:
“Muitas guerras surgem por causa de ódios duradouros entre povos, por ideologias ou por ganância de poder ou de riqueza de indivíduos ou de grupos. Para alguns, a motivação para a guerra e para o poder é também o desespero, quando, por exemplo, a maioria não tem voz politicamente, quando os cidadãos sofrem de fome, de pobreza, de opressão ou de outras injustiças. Onde poucos ricos vivem à custa de muitos pobres, esta desigualdade provoca frequentemente surtos de violência.”
Setores da Igreja Católica avançam inclusive na autocrítica, baseando-se especialmente na evolução do catolicismo, que se confundiu – e se criminalizou -, em várias etapas da história da humanidade, com indefectíveis vetores de fomento da violência. É oportuno, portanto, ver nesta Quaresma os católicos repetirem que “estruturas injustas conduzem sempre à exploração e à miséria. Que a guerra só pode ser duravelmente evitada onde surgirem sociedades livres, nas quais dominam relações justas e todas as pessoas têm uma perspectiva de desenvolvimento”.
Efetivamente, os excludentes modelos de governo são perniciosos. Basta mencionar a constatação do Atlas da Violência/2017, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e o pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública: homens, jovens, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no país. Para confirmar, basta dar “uma olhada” em nossas páginas policiais.