Por mais paradoxal que possa parecer, dois anos após a tragédia de Fundão, ainda se discute se Ponte Nova foi afetada pelo mar de lama que, descendo pelo rio Gualaxo do Norte, na tarde de 5/11/2015, passou pelo rio do Carmo e chegou ao rio Doce, danificando inclusive a foz deste curso d’água, no trecho capixaba do oceano Atlântico.
Na página 10 desta edição, apresentamos o trauma dos sitiantes da localidade pontenovense de Simplício, que na madrugada de 6/11/2015 depararam com uma “enchente de barro”. O espaço municipal afetado foi pequeno, mas o drama dos agricultores tem o mesmo tamanho – em angústia e revolta – da radical mudança imposta pelo desastre a tantas populações ribeirinhas de MG e do ES.
Por outro lado, prevalece, ainda hoje, a avaliação de que, para recuperar a Bacia do Rio Doce, deve-se dar ênfase especial à revitalização da Sub-Bacia do Rio Piranga, principal afluente do Doce.
Repetimos, portanto, ser paradoxal discutir-se, ainda hoje, se Ponte Nova deve, ou não, ser compensada pelo pacote de dinheiro gerido pela Fundação Renova/vinculada à mineradora Samarco. O quadro só não é pior porque, como informamos nesta edição, devem-se liberar, nos próximos meses, ao menos R$ 15 milhões para financiar o esgotamento sanitário de nosso Município, como importante etapa de limpeza das águas do Piranga.
A propósito, reiteramos que os dois anos da tragédia devem provocar a atualização da análise crítica, alimentando o debate sobre causas e efeitos do desastre que ceifou poucas vidas, mas mudou – para pior – definitivamente milhares de destinos.
Neste sentido, entre 3 e 5/11, na Escola Família Agrícola Paulo Freire, em Acaiaca, ocorre seminário com o tema “Bacia do Rio Doce, nossa Casa Comum. Responsabilidade de todos, frente à vida ameaçada”, numa promoção da Comissão de Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana.
Já em 5/11, a Arquidiocese marianense agenda missas em locais atingidos, incluindo a das 8h, na localidade barralonguense de Gesteira, e a das 10h, na Igreja Matriz do Centro de Barra Longa, município especialmente castigado pelos rejeitos.
Para concluir, deixamos aqui o depoimento de Graças Domeniguete, sitiante afetada em Ponte Nova: “Já tive muito pesadelo com o barulho que ouvi naquela madrugada. A gente fica aqui, com medo de acontecer de novo.” Se nos permitem o humor, nossa reportagem retrata um pouco do “suplício” (grave punição, dizem os dicionários) de quem mora em Simplício.