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Laene ComVida: ‘A caverna nossa de todo dia’

'Quanto mais surreal, mais compartilhamentos de mentiras e invencionices. A boa e limpa verdade tem sido esculhambada', diz Laene Mucci Daniel.
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Laene ComVida: ‘A caverna nossa de todo dia’

A “Caverna de Platão” é um dos textos filosóficos mais conhecidos e debatidos mundo afora. Nele, o filósofo grego Platão, nascido provavelmente no ano de 428 antes de Cristo, conta a história de homens acorrentados que só enxergam as sombras do mundo exterior projetadas na parede na caverna.

Para eles, isso é o mundo. Até que um dos homens escapa das correntes, conhece realmente o que se passa lá fora e, ao retornar para contar a verdade, é morto pelos outros.

Nessa alegoria (tipo de metáfora, narrativa mais longa), a vida na caverna é o mundo sensível, percebido e limitado pelos sentidos e preconceitos dos homens que, de frente para a parede e de costas para a luz, possuem uma falsa percepção da realidade.

Por outro lado, a vida fora da caverna é o mundo inteligível, alcançado pela razão. Sair da caverna é abandonar a condição de ignorância e prisão em que vivem os seres humanos. É procurar a luz e o conhecimento da verdade.

O que seria nossa caverna de hoje? Quais amarras nos prendem? Uns diriam que a caverna se transformou em bolha onde não há discussão e muito menos divergência de ideias, mas a imposição de conceitos e a projeção das mesmas narrativas. Outros afirmam que são as telas e algoritmos as prisões que nos impedem de enxergar claramente a realidade.

Quantos de nós procuramos saber a veracidade do que chega pelas redes sociais? E se a notícia chega de conhecidos queridos, acreditamos nela de olhos fechados e passamos pra frente?

No episódio 18 do podcast da rádio novelo (https://www.youtube.com/watch?v=0-wInSuMEOE), a jornalista Carol Pires conversa com João (pseudônimo) que trabalha com a criação de fake news. Foi ele quem inventou a notícia de que a medição da temperatura, à época da Covid, era a China monitorando os nanos robôs injetados nas pessoas pelas vacinas. Às gargalhadas, João comenta sobre o absurdo de se acreditar, até hoje, em fatos falsos, desse tipo.

Infelizmente, quanto mais surreal, mais compartilhamentos de mentiras e invencionices. A boa e limpa verdade tem sido esculhambada não somente durante as campanhas políticas. As mensagens falsas seguem nos contaminando de deboche, raiva e tristeza e apertando as amarras no escuro da ignorância e também ingenuidade nas cavernas/bolhas humanas.

Em seu curso “Filosofia para sair da caverna”, o professor e doutor Mateus Salvadori afirma que pensar é um ato de coragem e filosofar é sair da caverna, trazer a verdade à luz. Inicialmente o professor recomenda combatermos a ansiedade, causada pela rapidez do raso pensamento e perda da profundidade e da calma.

Para esse combate, o professor nos apresenta o estoicismo como antídoto da ansiedade. Para os estoicos, é preciso compreender o que controlamos e o que não.

Não controlamos a grosseria alheia, por exemplo, mas moderamos a nossa resposta. A chave da filosofia estoica é parar de lutar contra o que está fora e cuidar do que está dentro. Quando focamos apenas no que depende de nós, economizamos energia, evitamos o sofrimento desnecessário e alcançamos a paz interior.

O que realmente controlamos? Indaga-nos o estoicista Epicteto. Para vivermos com sabedoria, nos aconselha o estoicista Marco Aurélio, devemos praticar as disciplinas do desejo (desejo do que for possível), da ação (coragem e serenidade para fazer o que for preciso) e do consentimento (percepção da emoção e escolha da reação).

Passar pela vida cumprindo roteiros é se manter na caverna. Mudar vez ou outra o trajeto da casa ao trabalho é respirar fora da caverna.

Acreditar que o que vale nesse mundo é o útil, lucrativo e  rápido é se enterrar na caverna. Reencontrar amigos fora das redes, relembrar casos e admirar as coisas é totalmente fora da caverna.

Queremos mesmo sair da caverna de todo dia?

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