
Por acaso alguém sabe por onde anda a Chapeuzinho Azul? Esta cuida da tia, e não da avó. Dizem que já foi a bruxa do arco-íris bailando no Movimento Sabedoria e Paz, em meio às cores. Informaram-me também que ela trabalhava na loja Princesinha e costurava à noite.
Fomos investigar e descobrimos que Chapeuzinho Azul morou 14 anos no Rio de Janeiro, depois de se casar com o paraquedista Valadão, que passou um perrengue para conquistá-la. Foram flores, caixas de frutas e muita persistência pra provar que, apesar de desquitado (assim se falava à época), não era o lobo mau. Ao contrário, por 41 anos, o marido se mostrou simpático, incentivador, fã ardoroso e alegre companheiro da sua esposa artista, com quem ia todos os domingos à missa para aplaudi-la cantando o Salmo.
“Lá, lá, lá, lá, lá… trouxe flores pra você não sei por que nem pra quê”, sem ninguém saber, vestida de azul da cabeça aos pés, com direito a chapéu, cestinha e flores, Maria das Graças Silva de Moura (Gracinha), verdadeira identidade da Chapeuzinho Azul, chega ao evento da Academia de Letras, Ciências e Artes de Ponte Nova (Alepon), cantando e encantando.
Cantar é o que Gracinha mais gosta de fazer na vida. Adora fazer surpresas: numa formatura no Rio de Janeiro, ela põe os óculos escuros, enrola o poá ao pescoço e entoa “Você é assim, um sonho pra mim…”, surpreendendo a família do marido. Diz ela: “O Rio me soltou no bom sentido, eu era muito tímida, complexada. Quando elogiavam meus olhos verdes, fechava-os, achando que eram grandes demais.”
Hoje, Gracinha é feliz com sua arte. Soprano no Coral Vozes do Piranga, apresenta-se anualmente, em dezembro, no aniversário da FOLHA DE PONTE NOVA, na Igreja Matriz São Sebastião, além de exibições em outros eventos e cidades.
A vizinhança do bairro Primeiro de Maio, às vezes, tem o privilégio de ouvir Gracinha cantando no dia a dia, enquanto faz as tarefas domésticas.
– O que você não gosta de fazer?
– Não tem o que não gosto. Gosto de cozinhar, de lavar roupa, não sou fanática.
Em sua casa cheia de flores, Gracinha me conta que é católica praticante e não tem santo preferido. Gosta de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Graças, São Geraldo e São Sebastião, mas sua fé é tranquila.
– Qual é sua maior qualidade?
– Acho que é o meu jeito de ser, nunca briguei, não fico com raiva de ninguém e ninguém tem raiva de mim. Não sei mentir, inventar história não é comigo. Meu temperamento eu agradeço a Deus.
Gracinha é mesmo assim: de boa e decidida. Antes de casar, avisou ao pretendente: “A gente leva não de mãe e pai a vida inteira. Nunca vou fazer nada errado, não fale não comigo.” E ele não falou.
Quando moraram no Rio, Gracinha cismava de ir à Penha, pegava o trem e subia os 382 degraus da Basílica, chegando a tempo de a missa começar. Quando foi internada no hospital e lhe perguntaram “Você teve AVC?”, ela respondeu: “Não dei nome não!” Sem neurose, hoje ela tem um só médico, cuida da diabetes e não fica conferindo a todo momento sua pressão, geralmente alta.
Gracinha é assim mesmo: leve e sincera. Apesar de pôr comida pros cães e gatos que vivem na casa da sobrinha, não os põe no colo. Mesmo com o senso comum ainda defendendo que filhos compensam um casamento mediano, Maria das Graças discorda: “Nunca fui fanática por ser mãe, se não casasse, não ia ter filho mesmo.” E ela foi feliz, muito feliz na sua união com José Valadão de Moura.
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