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Laene ComVida: ‘A caverna nossa de todo dia’

'Quanto mais surreal, mais compartilhamentos de mentiras e invencionices. A boa e limpa verdade tem sido esculhambada', diz Laene Mucci Daniel.
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Laene ComVida: Carta à Ester Alves Magalhães Trindade

Ponte Nova, 10 de janeiro de 2025.

Prezada Estrela,

Você atravessa a vida da gente de um jeito determinado e engraçado. Não no sentido da comédia, mas na graça de ir vivendo do seu jeitinho: de falar (“ah! mãe, a senhora é boba, não tem ninguém que é pobre não”) e acreditar (“o que a gente quer fazer a gente luta pra fazer”).

Estar na sua casa onde “tudo é memória” me fez, claro, lembrar (muito) da minha mãe. Não só porque você a citou várias vezes (“ela era muito caprichosa comigo”). “Mas como vocês se parecem!” (“ó! não precisa fazer risco pra mim não porque eu mesma vou bordando aqui o que der na minha cabeça”).

Na dedicação de ser professora (“hoje as crianças não criam vínculo com professor”), na coragem de ser artista (“meu professor de pintura me disse que nasci ‘Monéia’, ele vira as costas, atrapalho tudo que ensinou, riscando, fazendo do meu jeito”), na promoção das pessoas (“esse homem não pode ser desperdiçado, eu vou escrever um livro do seu Zé, o chef Bambu”), na hiperatividade (“eu vou ler esse livro enquanto faço a inalação), no respeito à natureza e no pragmatismo (“duas vezes ele entrou e saiu lá na rua, tava me dando um trabalho e estragando meus trem demais. Comprei uma mesa que dobra pra carregar fácil, fiz um andar lá em cima pra eu deixar o rio passar, isso aqui é do rio agora”).

Foi uma delícia conhecer seu aconchegante lar com vista para o Piranga, suas plantas, pinturas, companheiros Brenno e Ryan. Amei o bolo de maçã de Haideê e o doce de Maria.

Admirei você ainda mais ao saber do gato de rua que adotou (“chama reizinho, ele é inteligente. Falam que tenho que castrar, eu não tenho coragem de jeito nenhum, esse gato dorme em árvore, sobe nas grimpas, pula daqui lá, se eu castrar ele vai ficar bobo, gostamos dele é porque ele é assim”) e do cão (Lupi me acorda às cinco da manhã pra dar a volta dele”).

Ester, você é uma cor que faz o mundo ficar diferente, bem melhor! Não me esqueço de você chegando com seus alunos com o rosto pintado de carvão, a caráter para a Festa do Saci.  Dona Laene dizia que você era uma peça rara, um baú de surpresas. Sim! Praticante de Ludodanza, pintora, escritora, voluntária na Fundação Menino Jesus, membro da Academia de Letras, Ciências e Artes de Ponte Nova (Alepon) e do Coral Vozes do Piranga, você ainda arruma tempo para estudar filosofia (“Nunca mais parei de estudar.

Ensinei meus alunos para eles aprenderem a pensar. Comecei por Epicuro com a Carta da Felicidade”) e fazer o que mais ama: viajar (“já viajei o Brasil quase todo. Fiquei apaixonada com Manaus. Quando eu pisei naquele lugar, tirei o chinelo, quero pisar é na terra. Dancei com os índios, andei de canoa no rio no meio da floresta”).

Sabia que você era uma viajante, não uma expert (“eu não tenho medo de nada, viajar não tem mistério não”).

Adorei seus casos de New York (“eu não sei de onde saiu tanta palavra em inglês da minha cabeça”) e concordo que Paris é incomparável (“não vim aqui à Europa pra não ir a Paris. Eu já fui orientada lá no aeroporto: a gente paga um tradutor e ele acompanha a gente) e no Porto dá vontade de morar (“Você tem que ir à Serra da Estrela!”).

Queria te sugerir: escreva um livro sobre as histórias de suas viagens, como a da bagagem perdida, o frango assado na França, a mala e o armário de revistas.

Aliás, o seu Entrelinhas (“O emaranhado da vida pode ser uma ponte, via de acesso, reencontro”) é uma preciosidade a ser distribuído a toda professora e professor de Ponte Nova. Nele você afirma que “é possível ser uma pessoa melhor criando momentos e memórias felizes”.

Saí de sua casa, Ester, contente, cantarolando a canção do momento “A vida é de boa, não preciso de muito pra ser feliz, não”.

Gracias pelo encontro. Te desejo toda a sorte na próxima viagem a Amsterdã.

Um abraço apertado, Laeninha.

PS. – Por que não coordena um grupo de estudo de filosofia a distância?

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