
Na praia os corpos são soltos, não se importam com as formas. Só se preocupam se vai ter sol. Gordos, velhos, lisos, beges, branquelos, bambos, pretos, dourados. Quando as almas alcançam o espírito marítimo, tomam os corpos de alegria e beleza. Barrigas balançam felizes sobre as cangas e o sol não seleciona, lambe todo mundo sob ele.
À beira mar sinto-me bonita, até posso correr na areia, andar de ponta a ponta, pular espumas, furar ondas. Quem cai no quebra-mar levanta rindo e quem vê gargalha. Pra quê música quando Iemanjá fala com a gente? Sem bolsa, celular nem dinheiro, vejo o céu abaixando no mar. Chuva perto, mas distante, escorre no horizonte. O sol se esforça pra chegar.
A chuva chega de pancada molhando chapéus, cadeiras, corpos e pensamentos. Fria, refresca quem corre para as barracas. Não dura nem 15 minutos, deixando o céu tão azul trancando as pálpebras de quem não usa óculos escuros. O mar à frente se enfaixa de uma listra marrom. Mais próximo ao horizonte continua azul turquesa. De volta à areia, mães à milanesa, com seus filhotes, brincam de castelos ou bolas. Por perto, os pais tomam brejas geladas. Depois a família cai de boca no camarão à paulista.
Num segundo, surgem zil pessoas de pulseiras lilás. Parecem uma excursão. E é! Ocupam todas as mesas, pedem água e um prato feito, com frango ou carne de boi. Estranha essa preferência por excluir um peixe frito ou assado, justamente numa cidade marítima.
O mês de janeiro é sagrado para grande parte dos mineiros: praia! Não importa se vai chover a quinzena inteira, o apê ou a casa já está reservado desde o ano passado. A mineirada não tem medo dos desbarrancos nas estradas, levam numa boa as filas pra quase tudo e, se o imóvel alugado for uma roubada, fazem graça da aventura.
Quem nunca caiu na conversa de um amigo que tinha uma casa óóóótima na praia e, quando a família de seis chegou, lá era um muquifo?! E as fotos perfeitas da internet que não mostram a descarga estragada, a parede mofada, o quarto minúsculo?
Uma vez alugamos um airbnb com vista para o jardim e o jardim era um vaso sobre a tampa da cisterna, com uma palmeira meio seca. Noutra, o café da manhã – “especialidade da pousada” – era todo industrial, nada fresco, fruta nem pensar e o suco, argh, de que era aquilo?
Claro que houve locais e atendimentos sublimes, mas o que me diverte é a capacidade do ser humano, em especial, a gente de Minas Gerais, insistir (e amar) no programa praístico, de qualquer maneira, do jeito que for. Férias sem praia não vale. Feriado sem o mar não tem graça.
E na praia a gente (se) reconhece o mineiro de longe. Tá nublado, mas o protetor está na bolsa e os óculos escuros, na cara. Se o tempo está bom, olha lá a mineira saudando o sol, com ou sem foto, de braços abertos. Se teve um chope a mais, a boca fica aberta e o olho chega a vazar vendo aquele marzão todo.
Diante dele, adolescente sorri à toa, criança grita sem motivo e adulto, ah! relaxa e fica feliz.
Deve ter gente que não gosta de sol, areia, vendedores ambulantes… contudo eu duvido de que, se parar pra reparar, não ache o oceano um deslumbre, uma coisa divina.
Não é à toa que a Bossa Nova ainda encanta o mundo falando de barquinho, azul do céu, onda, cais, “o resto é o mar…”
Nada é maior do que o mar. Nele, a maioria de nós, mulheres, não se avexa não. Pega o protetor, os óculos escuros, a saída de praia, o biquíni e leva pra praia o corpo que tem. Felizes da vida. O mar não põe defeito, pra ele, a gente é bem-vinda.
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