
Acabei de topar com meu psiquiatra na padaria que fica próxima ao seu consultório justamente em dia de atendimento. Explico melhor: há alguns dias recebi uma mensagem da sua secretária cancelando minha consulta porque o dito cujo não atenderia mais em Viçosa.
Eu posso estar enganada, você me diz? Pelo tapinha mole no meu ombro e pela cara lustrosa e desconcertada do doutor ao me encontrar, julgo que sim, mentiroso de perna curta.
O que fazer quando desconfiamos dos nossos assistentes de saúde? De repente, o empostado médico das mentes vira um Pinóquio de primeira, o inteligente conhecedor das químicas cerebrais perde a pose no balcão da panificadora.
Por que será que ele desmarcou comigo? Não vai com a minha cara? Não se deu com minha alma?
Para além de uma pequena baixa estima, me preocupa mais o acompanhamento dos medicamentos. Porque ele me entupiu deles. O noturno faixa preta me desmonta na cama num só gole e, nos dias seguintes, tenho vivido lesada, lenta, sonolenta.
Com quem agora vou administrar as drogas lícitas que me anestesiaram a vida?
“- Este será o último mês de atendimento do Doutor em Viçosa. Com isso, infelizmente não tenho outra data para reagendar sua consulta! Recomendo procurar outro profissional da sua confiança para dar continuidade ao seu tratamento.” Finalizando a mensagem com uma rosinha vermelha, a secretária cancela o compromisso com 10 dias de antecedência. Como marcar um novo médico assim de uma hora pra outra?
“- Seria correto que ele pelo menos me conceda as receitas até que eu consiga marcar outro profissional”, respondo.
“- Vou verificar sobre isso e retorno a você!”, o que ela não fez até hoje, 10 dias depois.
Entre pães e capuchinos quase que eu pergunto pra ele: que tipo de profissional decide cancelar os compromissos com pacientes que tomam remédios controlados? Ou de forma mais delicada: quer dizer que o senhor não vai mais atender em Viçosa… decidiu de um dia pro outro?
Parece-me que os psiquiatras aqui estão pirando. Procurando credenciados do meu plano de saúde, outra profissional cobrava 500 reais para a primeira consulta.
“- Mas ela não atende pelo plano?”, não compreendo a cobrança.
“- Sim, mas, devido à grande demanda, a primeira consulta que é mais demorada, ela cobra”, me explica a atendente o que não tem explicação.
Pra piorar um pouco mais a situação, conto o acontecido ao atendimento pelo whatsapp do meu plano que me diz: – Explique por favor isso detalhadamente pelo e-mail. “Mas não é isso que estou fazendo aqui agora, cara pálida?”, penso e desisto da queixa.
Queixar-se é algo a que não estamos no Brasil acostumados. Aceitamos atendimentos ruins, engolimos seco tratamentos desrespeitosos. E, se a prestação de serviço é monopolizada, aí é que reclamar nem adianta. Lembra do apagão em São Paulo? No último 28 de outubro, 100 mil clientes da Enel ficaram sem luz. E a quem responsabilizar pelos danos se o próprio contrato de concessão da empresa não prevê prazo para restabelecimento do serviço em caso de um evento climático?!
Responsabilidade: responder pelas habilidades, alguém um dia me falou. Responder pelos atos. Dar conta do que se faz e fazer direito.
Em tempos em que tramadores de assassinatos são admirados na vida real, o certo continua o correto, mas não pra todo mundo.
O senhor psiquiatra não agiu corretamente ao dispensar pacientes sem o cuidado da última conversa, do tempo necessário para o ajuste dos remédios e o encaminhamento a novo profissional. E pra piorar, quando fui buscar as receitas, me foi cobrada uma consulta! Acho que ele precisa de terapia!