Reinaldo: meio século de trajetória

Repercutiu na cidade, em 24/10, edição do Programa Esporte Espetacular/Rede Globo com reportagem sobre os 50 anos da viagem do pontenovense Reinaldo Lima para iniciar sua vitoriosa carreira no Atlético/MG.
O ex-atleta deu declarações emocionadas ao longo de quase nove minutos, marcados por belas imagens gravadas inclusive em Ponte Nova.
Já em 2/11, o Blog Negro Nicolau, assinado por Nicolau Neto/ativista negro e professor de História, jogou luz sobre o ano de 1977, quando “o Atlético Mineiro tinha um time de causar inveja. Em seu elenco, o principal nome era Reinaldo, centroavante muito rápido e goleador, artilheiro daquela edição do Campeonato Brasileiro”.
Reinaldo comemorava gols com o braço levantado em riste, com punho cerrado, num gesto/símbolo internacional de luta por direitos humanos e sociais e incorporado à luta antirracista do movimento Panteras Negras/EUA.
Diz o articulista que em 1978 a pressão pela convocação de Reinaldo era reprovada pelos generais brasileiros, que na época o consideravam “de esquerda e subversivo”. No período, a Seleção Brasileira tinha em seu quadro de cartolas mais de 50% de membros do Exército. A pressão, porém, foi tão grande que acabaram levando o jogador.
Durante um dos jogos da Seleção, o presidente do Brasil, general Ernesto Geisel, chamou Reinaldo para uma conversa e “recomendou” que, se ele fizesse gol, evitasse a sua conhecida comemoração, que era “coisa de comunista”.
Pois bem: o time do Brasil desembarcou em Buenos Aires/Argentina, onde se mantinha uma sangrenta Ditadura Militar, comandada pelo general Jorge Videla.
Já no jogo de estreia, contra a Suécia, Reinaldo marcou um belo gol e, após segundos de hesitação, soltou e ergueu o braço esquerdo com o punho cerrado. “O atleta não jogaria mais pela Seleção, foi sacado e nunca mais colocado naquela Copa”, escreveu Nicolau Neto com uma revelação:
“No hotel, Reinaldo recebeu envelope com documento contando a história da ‘Operação Condor’, uma cooperação entre países sul-americanos para matar e torturar possíveis inimigos do Regime, principalmente políticos.
A documentação revelava que políticos importantes chilenos foram mortos pela sanguinária Ditadura de Pinochet e que a morte do ex-presidente JK no Brasil foi fruto da Operação.”
O jogador entendeu a sua missão. “Entregou o relatório para o amigo Gonzaguinha, cantor e compositor que tinha contatos com movimentos sociais e instituições ligadas aos direitos.
Aqueles papéis se tornaram públicos e foram extremamente importantes para aumentar o desgaste na imagem internacional dos generais sul-americanos e também para elucidar crimes contra a humanidade cometidos por eles.” O articulista assim conclui:
“Reinaldo se tornou um dos maiores jogadores da história da América do Sul e não foi só pelo talento e pelo futebol, mas sim por alterar os rumos da história.”