Na tarde de ontem, quinta-feira, 25/2, no Ministério Público/MP de PN, ocorreu reunião entre representantes do Movimento de Atingidos por Barragens/MAB, barralonguenses e a promotora de Justiça Carolina Queiroz de Carvalho, na Promotoria de Justiça de Ponte Nova, para discutir medidas contra a homologação do acordo extrajudicial entre a União, Samarco, Vale e BHP. O acordo garante às três empresas o poder de decidir como – e quanto – indenizar os atingidos pelo desastre da Barragem de Fundão/Mariana, ainda em 5/11.
Segundo Carolina, tal acordo “é inviável” e prejudica os atingidos barralonguenses, já que as empresas “atropelam os direitos dos atingidos”, os quais não tiveram “poder de voto” no acordo e “sequer foram ouvidos pelas empresas”. Ela insiste na decisão a partir da Justiça/MG, sob pena de violação de direitos: “Uma instância – a Justiça Federal – que não conta com a participação dos atingidos não é adequada para o caso.”
“Fomos atingidos pela Samarco duas vezes: a primeira, com a lama, e agora, com esse acordo”, comentou uma moradora de Barra Longa. Thiago Alves, membro da Coordenação Estadual do MAB e morador na cidade, diz que a negociação deve ser feita pelo povo e que a luta agora é para que o processo continue tramitando na Vara Estadual, já que o território atingido não pertence à União.
“A cidade está sitiada”, comentou Thiago ao informar que é praticamente impossível ter acesso a determinados bairros. Existe ainda, segundo ele, “situação de calamidade na saúde”. “A Samarco não cumpriu com o fornecimento do serviço de assistência médica, como prometido”, disse um atingido perante a promotora Carolina, apontando “sobrecarga” no sistema de saúde da cidade, inclusive funcionários “psicologicamente abalados”, como enfatizou um depoente.
A representante do MP ouviu relato de que a sensação é de abandono, segundo um depoente, pela falta de ação incisiva das Administrações Públicas Municipal e Estadual. Há informe oficioso de pelo menos 70 casos já confirmados de dengue, além de virose que causa febre intermitente e diarreias, a qual seria provocada pelo apodrecimento da lama que ficou na parte baixa da cidade.
Outro fator de denúncia ouvida por Carolina: o leito do rio do Carmo – e o seu percurso – ficou alterado após a invasão da lama. Os atingidos informaram que alguns quintais à beira-rio, por conta da erosão, perderam até 3 metros de terreno. José Edvaldo Santos mostrou fotos de seu quintal antes e depois da lama.
Os atingidos temem que, em caso de enchente períódica do rio, haja, a partir de agora, inundação de suas casas. Por isso, reivindica-se construção de novas moradias em "local seguro", enquanto a Samarco acena apenas com a retirada da lama nos locais atingidos.O que causa indignação maior para alguns atingidos é o fato de o assunto cair no esquecimento para muitos, enquanto a Samarco divulga serviços prestados, os quais seriam, em grande maioria, "inverdades". "Quem não pisou na lama não sabe o que está acontecendo", comentou outro morador.
A comitiva decidiu, após encontro com a promotora Carolina, promover manifestação hoje, sexta (26/2), em BH, diante da sede da Justiça Federal, apelando ao juiz da 12ª Vara Federal Cláudio José Coelho Costa pela homologação do acordo. "Queremos que a Samarco resolva definitivamente o problema criado por ela, e essa não é uma opção", comentou um atingido.
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