José perdeu sete porcos. Amado e Leomar não podem mais pescar. Quatro vacas e um bezerro de Rosa morreram. No lago da Hidrelétrica de Candonga, o barco de Walter ficou submerso pela lama (na foto de Beto Novaes/EM/D.A. Press). Os pescadores do Espírito Santo só encontram piranhas num rio que antes tinha até lagosta de água doce.
Ao percorrer as comunidades à beira do rio Doce para avaliar os danos do rompimento da barragem de Fundão/Mariana, a reportagem do jornal Estado de Minas registrou, em 21/12, um cenário desolador. “Sobram lamentos e prejuízos, mas o futuro pode ser menos enlameado do que parece. Pesquisadores conseguem ver na força da natureza uma possibilidade de o rio voltar à vida”, informou o texto dos repórteres Daniel Camargos e Daniel Damasceno.
A lama deixou, até a foz do rio Doce com o oceano Atlântico, no Espírito Santo, um rastro de destruição de 679km, que comprometeu de microrganismos a cidades inteiras, atingindo 1.775 hectares de mata nativa, segundo dados da Ong SOS Mata Atlântica, registrados no jornal da Capital, que acrescenta: morreram ao menos 11 toneladas de peixes, de acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis/Ibama.
“Não tem como recuperar o que foi perdido. O que estamos discutindo é como estabilizar esse processo para que não continue gerando dano”, afirma ao EM Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão. “A vegetação da bacia já vinha sendo castigada por causa da atividade agrícola, pecuária, pastagem, mineração. O primeiro passo é avaliar. Depois, tem que se pensar em recuperar toda a bacia”, disse ao jornal Márcia Hirota, diretora executiva da SOS Mata Atlântica.
A recuperação vai depender da preservação de seus afluentes. “A Bacia do Rio Doce é como um telhado, com os afluentes – entre eles o rio Piranga – escorrendo água para uma calha que está suja. Por isso, preservá-los é tão importante”, exemplificou, na reportagem, o biólogo Fábio Vieira, da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG.