Recente declaração de médica repercutiu pelo fato de o surto de febre amarela no Leste de Minas Gerais coincidir com o mapa da Bacia do Rio Doce, duramente afetada pela lama da Barragem de Fundão/Mariana. Para a pediatra e infectologista Aline Bentes, da Rede Médicos e Médicas Populares, “é possível inferir que o deslizamento da barragem tenha matado predadores naturais do mosquito transmissor, a começar pelos sapos”. Estudos científicos, no entanto, que podem assegurar a relação ainda são insuficientes.
Em nota no seu site, o Movimento dos Atingidos por Barragens/MAB avança na acusação, enquanto a Fundação Renova/vinculada à mineradora Samarco promoveu evento cientítico sobre o tema em 19 e 20/1, em BH.
Nesta semana, o MAB transcreveu reportagem do Jornal Brasil de Fato, assinada por Raíssa Lopes, salientando que as mudanças ambientais provocadas pela tragédia influenciam a saúde dos animais, inclusive a dos macacos – principal hospedeiro do vírus. “É inegável que o desequilíbrio ambiental gerado pelo desastre traga consequências graves para a saúde da população”, afirma nota do Movimento.
Segundo a reportagem do “Brasil de Fato”, as obras realizadas pela Samarco logo após a tragédia levaram para a região muita sujeira, a exemplo do “canteiro de obras” instalado em Barra Longa, onde os espaços do parque de exposições e de um campo de futebol tornaram-se depósito de lama. “Não há dúvida de que as condições favorecem o surgimento de doenças. Além disso, ainda há gente precisando beber água diretamente do rio contaminado”, declarou Thiago Alves, integrante da Coordenação do MAB em Minas Gerais.
Não por acaso, a Fundação Renova promoveu, em 19 e 20/1, em BH, o painel científico “O que é a Febre Amarela em antigas regiões florestais, hoje altamente povoadas, da Bacia do Rio Doce?”, coordenado pelo ecólogo Sérvio Pontes Ribeiro. A meta foi propiciar debate interdisciplinar com pesquisadores de diversas áreas que contemplam a questão das arboviroses (viroses que têm a origem de sua transmissão em artrópodes), como o caso da febre amarela.
No último dia, as discussões (veja a foto divulgada pela Renova) giraram em torno das propostas de linhas de pesquisa emergencial, bem como de médio e longo prazo, sobre a temática. Abordaram-se as questões epidemiológicas e ecológicas do surto de febre amarela na Bacia do Rio do Doce. No encerramento, surgiu lista com as principais hipóteses que precisam ser investigadas.
Dentre elas, a necessidade de estudo sobre o surto que acontece simultaneamente com a mortalidade de macacos. “Considerando que a conservação da biodiversidade é fundamental para o controle de arboviroses, a correlação dos dois eventos é uma hipótese provável, mas que precisa de confirmação”, ressalta nota da Fundação.