Pacientes renais crônicos e transplantados de alguns municípios da área da Superintendência Regional de Saúde/SRS de Ponte Nova denunciaram, no início desta semana, o drama provocado pela falta de medicamentos essenciais.
O caso mereceu denúncia da ONG Transvida/Transplantes pela Vida em Minas Gerais em notícia veiculada no jornal Estado de Minas/BH em 8/6. “Os motivos pelos quais esses medicamentos não estão chegando a esses pacientes não são explicados pela Superintendência Regional de Saúde”, diz o texto.
"Estou convivendo com essa angústia desde dezembro de 2020. Já estou com transtorno de ansiedade, porque o meu medo de ter mais problemas de saúde e voltar a fazer hemodiálise se transformou em um pesadelo", lamentou no jornal Kênia de Souza Missuti, 40 anos, moradora de Viçosa.
Transplantada há quase três anos, ela é portadora de lúpus, doença autoimune. Segundo Kênia, o problema não se limita à falta dos medicamentos. O principal é o atendimento na Regional de Saúde de Ponte Nova, que "é vago, pouco esclarecedor e às vezes desrespeitoso".
Disse a paciente na reportagem do EM: "O atendimento na ‘farmácia de alto custo’ daqui (Viçosa) é excelente, mas a Regional de Ponte Nova nos trata com muita falta de educação. Liguei para lá e disseram que não me devem satisfação e que eles só devem satisfação à Secretaria Municipal de Saúde do município."
Kênia toma o imunossupressor Tacrolimo, por causa do transplante renal, e a Hidroxicloroquina, para o lúpus. De acordo com ela, a Cloroquina está em falta desde que virou a “estrela” do suposto tratamento precoce contra a Covid-19. “Quem de fato precisa desse medicamento ficou à míngua”, desabafa ela.
Solidariedade entre amigos
A solidariedade de um grupo de pacientes renais no WhatsApp salvou a vida de um paciente renal da cidade Paula Cândido (fica a 70km de Ponte Nova). Ele estava prestes a ser internado, mas o grupo se uniu e cada integrante doou um pedaço da cartela do Tracolimo para esse paciente.
Agnaldo Coelho de Almeida, conterrâneo desse paciente, também precisa tomar regularmente o Tracolimo e não encontra o remédio na Regional de Ponte Nova.
"Lá na Regional me disseram que esse remédio está em falta, mas outros amigos transplantados relataram que em Belo Horizonte não está faltando. Então, o nosso questionamento é: por que esse medicamento não chegou à nossa Regional?", inquiriu Agnaldo no jornal da Capital.
O presidente da Transvida, Maurício Silva Victor, também reclama que sua associação não recebe respostas sobre indagações dos pacientes quanto à falta de medicamentos na região de Ponte Nova.
Ele encaminhou ofício ao Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais para que solicite à Secretaria de Saúde/MG as seguintes informações: estoque desses medicamentos; cronograma de requisição junto ao Ministério da Saúde em 2021; programação de novas requisições e recebimentos; e regularização do cronograma de fornecimento para todas as Farmácias Regionais de Minas.
Nota da SRS para esta FOLHA
“A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG), por meio da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Ponte Nova, informa que os medicamentos Tacrolimo e Hidroxicloroquina são adquiridos pelo Ministério da Saúde para posteriormente serem distribuídos aos Estados e Municípios.”
Na sexta-feira passada (4/6), a SRS recebeu remessa das citadas medicações, “já tendo iniciado sua dispensação aos usuários no começo desta semana. Dessa forma, a questão do desabastecimento foi sanada”, conclui a nota.
O dirigente da SRS, Marcus Schittini, disse a esta FOLHA: “Pelo que tenho conhecimento, o Ministério da Saúde ficou dois meses sem repassar os medicamentos para todo o Estado, e não somente para a Farmácia da Regional de Ponte Nova.”
Schittini revelou que instaurou processo administrativo para apurar a questão do atendimento aos pacientes.