Dois dias após a prisão do padre Paulo César Salgado, 56 anos, administrador da Quase Paróquia São José, em Oratórios, o clima vivido por moradores é de desconfiança para alguns (com críticas de pessoas que preferiam não se identificar). Para outros, uma imagem boa do pároco.
A Reportagem desta FOLHA visitou o Centro daquela cidade na manhã dessa sexta-feira (24/2), constatando o debate sobre o tema em meio à preparação para o Carnaval. “Ele era vagabundo”, disse um. “Até que enfim ele foi preso”, informou outro cidadão.
Nas padarias, nos bares, nas mercearias e entre os que passavam pela praça principal, o assunto era o mesmo: a prisão do padre Paulo. Ninguém, porém, assumiu a acusação que motivou a prisão dele: receptação de imagens sacras e crime de pedofilia.
Os militares agiram depois que a Justiça acatou denúncia do Ministério Público com informações de moradores sobre o “comportamento” do padre. Após 3 meses de atuação do Serviço de Inteligência da PM, cumpriram-se mandados judiciais de prisão preventiva, busca e apreensão naquela cidade e em outras três, conforme relato da Assessoria de Comunicação Organizacional da PM.
Já nas primeiras horas dessa quarta-feira (22/2), os moradores presenciaram ação de equipe da 21ª Companhia Independente da Polícia Militar de Ponte Nova, num cerco às casas do padre e de seu secretário, Vladimir Gomes Magalhães, 51.
Na casa do padre, os militares recolheram, por força de mandado judicial de busca e apreensão, vasto material sacro e notebook (com cenas de sexo entre o padre e um adolescente de 16 anos), enquanto outra equipe policial esteve simultaneamente em endereço do religioso em BH, onde apreenderam “diversos itens de mídia com conteúdo pornográfico”.
Sabe-se que Paulo não estava em casa no momento da chegada dos policiais, mas acabou localizado quando trafegava com o seu carro pelo bairro Triângulo, em Ponte Nova.
Após o cumprimento dos mandados, Paulo e Vladimir foram conduzidos ao Quartel da PM/PN para registro dos boletins e encaminhados à Delegacia/PN, onde prestaram depoimento – não divulgado e depois foram encarcerados na Penitenciária/PN.
Em poucas horas, a repercussão pelas redes sociais e na população da região mostrava a incerteza sobre “qual padre havia sido preso”. Nos primeiros noticiários de rádio da Capital, informava-se que era um padre de Ponte Nova. Ao longo da manhã, no entanto, circulou a notícia da confirmação sobre o nome do padre Paulo, o qual tomou posse em Oratórios em 8/10/2015.
Falando a esta FOLHA, a ministra Nilza Cardoso Sodré disse que não tem o que reclamar dele. Ela trabalhou com o religioso durante um ano e, como “venceu o meu tempo como ministra, passei a ter convivência com ele por amizade”.
“Não posso dizer se estão cometendo uma injustiça com ele, e coração dos outros é terra que ninguém pisa. Mas da minha parte nada tenho a reclamar dele. Aqui em Oratórios, ele não fez mal nenhum”, afirma Nilza. Na opinião dela, muitos estão fazendo julgamento “de forma equivocada”.
“Dizem que ele é ‘grosso’ e fala palavrão na missa, mas não é bem assim. Ocorre que na homilia [de cada missa] ele dizia a verdade e aconselhava os pais. Dizia para cuidarem dos filhos que ficam trancados nos quartos ‘mexendo’ na internet, aprendendo coisas erradas, e alertava sempre para a valorização da família”, diz a ex-ministra.
Nilza contesta informação de que padre Paulo cobrava muito dinheiro do dízimo: “Ele dizia que cada um poderia contribuir com o que podia e afirmo que ele empregou muita coisa na obra da Paróquia: ele era caprichoso, gostava das coisas bonitas e perfeitas. Ele comprou tanta coisa para a Igreja, para o altar, flores e muitas outras coisas. Quando trabalhei com ele, era preocupado e apresentava notas fiscais de tudo que comprava.”
Durante quatro meses, a rotina de Maria da Conceição (Sãozinha), que tem endereço bem atrás da Igreja Matriz (foto), era a de abrir o portão da Igreja, às 7h30, e fechá-la às 18h30.
“Foi no dia 23/9/2016 que o padre Paulo me procurou para colaborar com este serviço. Fui muito privilegiada em poder todos os dias abrir a igreja e ajudar na entrega dos dízimos”, contou a aposentada.
Depois, Sãozinha entregou as chaves da igreja para Vladimir, que passou a cuidar do templo: “Não tenho nada a reclamar deles. O padre era muito amigo meu, vinha na minha casa, almoçava, tomava café aqui e sempre se mostrou uma pessoa correta e de falar a verdade. A missa dele era muito boa e bem realista, e, às vezes, a verdade dói nos ouvidos de alguns.”