Comunidade localizada a 15km da sede do município de Barra Longa, Gesteira tem nesta semana desdobramentos do Mutirão Missionário de 5/1, dois meses depois do rompimento da barragem da Vale/BHP/Samarco em Mariana.
“As famílias estão certas de que esse Mutirão vai contribuir para o fortalecimento da comunidade e da sua luta. Elas defendem, principalmente, a reconstrução das casas atingidas e da igreja em local (foto) mais alto, fora da área de risco”, ressalta nota da Arquidiocese de Mariana.
Os cerca de 50 participantes da missão, oriundos de várias cidades, foram organizados em quatro grupos e visitaram todas as famílias da comunidade. À noite, houve “Caminhada Celebrativa”, saindo da margem do rio em direção à quadra, lembrando os problemas ainda enfrentados pela comunidade e a necessidade de união e organização.
Segundo o texto arquidiocesano, “os visitadores sentiram uma comunidade dramaticamente atingida, com casas destruídas e com o rio Gualaxo do Norte tingido de vermelho pela concentração de ferro e com muita lama acumulada em suas margens, onde antes tudo era verde, um cenário desolador”.
Continua o registro: “Houve gente que chorou pela primeira vez: o impacto na saúde é forte! Eles contaram que, no sábado, deu um vento forte e uma poeira vermelha tomou conta de tudo e tapou a visão. Sentiram medo, porque não sabem o que essa poeira pode trazer. Muitos ainda não conseguem dormir com medo da outra barragem romper-se.”
De acordo com o relato, “as vias de acesso ainda são precárias. A estrada principal ainda está obstruída por causa da ponte, que foi embora. A comunidade reivindica transporte todos os dias, mas a empresa coloca apenas duas vezes por semana, segunda e quinta-feira. Tanto na sede do povoado quanto no seu entorno, as famílias reclamam de que perderam toda a sua plantação e, até agora, não têm nenhuma solução”.
Ainda de acordo com a nota da Arquidiocese, os moradores reclamam de que “a prioridade da empresa [Samarco] são as fazendas, as capineiras, a ração para as vacas, a produção econômica, e não o povo. As famílias denunciaram também que recentemente um funcionário da Samarco bebeu muito, ligou a cirene de alerta e deixou todo mundo assustado.
“A Samarco vem aumentando ainda mais o sofrimento do povo e provocando sua divisão. As caminhonetas, caminhões e máquinas estressam as pessoas. As pessoas não têm informação do seu futuro. Há famílias atingidas querendo sair da parte baixa, mas a empresa está apenas reformando a casa. A empresa distribuiu ‘peru de natal’ somente para algumas pessoas escolhidas. E o cartão foi dado apenas para quem foi atingido pela lama”, acrescenta o informe.
O registro do portal da Arquidiocese é crítico: “A empresa está passando um verniz sobre os impactos, claramente para obter autorização para continuar a exploração de minério. Dois casos são evidentes. O povo quer a relocação de suas casas, e ela insiste em reforma apenas, deixando a família em área de risco. E está plantando ‘adubo verde’ às margens do rio. São 14 espécies, com adubação química, para esconder a lama. Há lugares na beira da estrada onde já se vê um pequeno tapete verde”.
Além da empresa, as famílias sofrem ainda com os oportunistas. “Entre eles, está um advogado. Ele promete resolver tudo e fica com 30% da causa. Segundo informações, ele já teria mais de 300 famílias em Barra Longa e região”, conclui o informe sobre o mutirão, que teve apoio do Movimento dos Atingidos por Barragens/MAB.