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O mau cheiro ainda predomina em Barra Longa, 6 meses depois da tragédia

O cheiro forte causa incômodo – ardor nas narinas – quando se transita na (extinta) praça. Não há como distinguir a origem do odor: se vem dos rejeitos de lama, do pó de material de construção ou da tinta que “disfarça” as marcas da lama nas casas.

Com este resumo olfativo, a reportagem desta FOLHA esteve na tarde de sexta-feira passada (6/5), em Barra Longa, seis meses depois de os rejeitos da Barragem de Fundão/Mariana – pertencente à Samarco e controlada pela Vale e a anglo-australiana BHP – atingirem a cidade.

Se ainda é grande o drama ao longo dos 62km entre Fundão e Barra Longa, no perímetro urbano barralonguense, a lama tirada das ruas transformou-se numa montanha em área anexa ao trecho rodoviário de saída/entrada da cidade. Existe ainda, porém, muita terra na região urbana e nas demais áreas rurais afetadas. Caminhões atravessam as vias públicas transportando barro e lama seca.

À margem do rio Carmo, no bairro Morro Vermelho, constrói-se muro de contenção com pedras. Próximo da praça principal, trabalhadores atuam na recuperação de imóveis residenciais e comerciais.A Samarco reconstruiu sete pontes, entre elas a que liga o centro urbano ao povoado Gesteira, numa estrada de acesso ao município  de Acaiaca, com 37 metros de comprimento e capacidade para 45 toneladas.

Como relatam alguns moradores, nos últimos seis meses, Barra Longa virou um canteiro de obras, no qual o pessoal da Samarco, logo na entrada da cidade, controla quem entra e sai e ainda arrisca – como diz um cidadão – um “olhar torto” quando chega uma equipe de Imprensa.

Apesar do inicial tom inibidor da recepção, a simpatia da grande maioria dos trabalhadores conquista os curiosos. Sobressaem o sorriso e o cumprimento da maioria dos cerca de 300 funcionários da mineradora que (re)constroem casas e reformam ruas e imóveis.

“Tá demorando sim, mas também é serviço demais”, resumiu o comerciante Geraldo Magela Ferreira Carneiro, ao ser questionado sobre a demora na entrega de sua loja de roupas. Ele conta que há dois meses a loja “está prontinha, com piso trocado, pintura nova, mas teve problema na rede de esgoto, levando a Samarco a quebrar o piso, atrasando mais o serviço”.

Passado o contratempo, Geraldo espera os móveis chegarem para reabrir o comércio. Enquanto isso, ele recebe indenização da mineradora e tenta vender – noutra loja sua, do ramo de móveis –  as roupas que conseguiu salvar da tragédia.

Pela cidade empoeirada, outra opinião: “Tem tantos homens aqui e parece que não tem nenhum”, resume Daniel dos Santos Souza, que recebe indenização da Samarco e trabalha numa venda de doces, pois não “gosto de ficar parado”. Ele perdeu o trabalho como garçom na pizzaria próxima da praça, a qual foi totalmente destruída pelo lamaçal de novembro de 2015. Há três meses, concluiu-se a reforma da pizzaria, mas espera-se a entrega dos equipamentos e do mobiliário para a reinauguração.

Também mudou a rotina de José Geraldo Ferreira Azedo, dono de loja de artigos para presentes na praça. Ele recebeu nossa reportagem quando lavava a loja e a sua área externa, fazendo isso duas vezes ao dia.

“É muita poeira e barro seco. Vocês estão vendo a situação. As pessoas pisam no resto de lama e percorrem o passeio. Aí surge a poeira”, resume ele, lamentando o sumiço dos clientes: “O pessoal do meio rural não vem mais. A clientela desapareceu, e com isso a crise só aumentou para nós, especialmente depois desta tragédia”, desabafa José Geraldo.

 

José Geraldo conta que na madrugada da tragédia foi para a beirada do rio imaginando que a lama passaria apenas no rio. Mas o barreiro inundou a parte baixa da área central da cidade: “Na minha loja, a lama atingiu 80cm. Perdi muita coisa, quase R$ 5 mil de mercadoria foi embora.”

O comerciante também recebe “benefício” da Samarco [salário mínimo mais 20% deste valor para sua esposa e filha] e aguarda a indenização prometida pela empresa. “Tenho esperança. Fiquei um mês parado, tirando lama e mais lama da loja. O desespero aumentou quando os meus cheques começaram a vencer na praça e os boletos [de cobrança] foram chegando”, conclui o comerciante.

É visível o quanto estão esgotados os moradores, comerciantes e transeuntes, que se esquivam das perguntas da Imprensa. Pode ser pelo assédio, pelas obras aparentemente sem fim ou pela onipresença da lama seca. A verdade é que, passados seis meses e com todo o esforço da Samarco, até os cachorros de ruas exalam o “cheiro da destruição”, como constata um transeunte.

 

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