Depois de a Samarco afirmar que não pretende reconstruir a Barragem de Fundão no local onde a estrutura rompeu-se, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior/PPS, acredita que a empresa tem interesse de voltar a minerar, porém construindo nova barragem num lugar que não ofereça risco a vidas humanas. “Na minha opinião, o interesse da Samarco é continuar. Acho que o melhor caminho a se pensar no futuro, depois de entender quem são os responsáveis por essa tragédia, é encontrar local para uma barragem que não ofereça risco às pessoas”, afirma.
O presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, afirmou em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, no último sábado, que não é intenção da empresa reconstruir Fundão por “tudo que esse acidente representou e representa para a própria empresa”. A lama que correu do reservatório de rejeitos minerários matou 17 pessoas e deixou outras duas desaparecidas, além de arrasar os rios Gualaxo do Norte, do Carmo e Doce, levando a destruição até o mar do Espírito Santo, onde fica a foz do rio Doce.
Quatro usinas hidrelétricas – entre elas a de Candonga, entre Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado – no curso do manancial tiveram que paralisar as atividades, populações ribeirinhas ficaram sem a sua principal fonte de renda e cidades que captam água do rio Doce interromperam o abastecimento.
Em Governador Valadares, maior município da bacia, houve falta de água durante sete dias, levando muitas pessoas ao desespero. Duarte Júnior afirma que não seria difícil encontrar outro lugar para armazenar os rejeitos da mineração da Samarco, já que a companhia é dona de muitos terrenos no município de Mariana. “Ela tem muitas posses. Acredito que eles tenham, sim, locais para fazer uma nova barragem que não comprometa a segurança de pessoas”, acrescenta o prefeito.
Em nota, a Samarco apenas confirma a intenção de não retomar as atividades em Fundão, sem detalhar os planos para o futuro. “No momento, a empresa ainda se dedica às ações humanitárias e à mitigação das consequências ambientais causadas pelo acidente. Questões operacionais ainda serão alvo de análise futura da empresa”, diz o texto.
Comunidade mais devastada pelo tsunami de lama que desceu da barragem de Fundão, o futuro de Bento Rodrigues começará a ser discutido em janeiro, segundo o prefeito de Mariana, em reunião que ainda será marcada com o governador Fernando Pimentel/PT e o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi. “Queremos que aquele lugar seja uma lembrança que sirva de exemplo para as próximas gerações”, diz Duarte Júnior, ao defender a ideia de que Bento Rodrigues vire um memorial da tragédia. “Vamos ouvir o Estado e ver se a Samarco concorda ou se ela tem novo projeto para lá. Isso está para ser discutido em janeiro. Conversei com o presidente da Samarco, e ele iniciou a conversa falando que a vontade dele é fazer ali algo muito importante. Não percebi nenhuma intenção de transformar Bento em nova barragem ou algo do tipo”, completa o prefeito. Em nota, a Samarco afirma que “uma discussão sobre o território de Bento Rodrigues será feita, futuramente, com a comunidade e os órgãos competentes”.