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InícioREGIÃOTragédia de Fundão acabou com a piracema na UHE de Candonga

Tragédia de Fundão acabou com a piracema na UHE de Candonga

O período da piracema – reprodução de peixes – termina neste 28/2 com proibição de pesca de diversas espécies. Desde novembro de 2015, todavia, quando os rejeitos da Barragem de Fundão/Mariana, interditaram a Usina Hidrelétrica/UHE de Candonga (entre os municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado), interromperam-se os ciclos anuais de piracema, como denunciou recentemente o Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini.

Segundo o relato, divulgado há algumas semanas no site e no jornal da ONG, sem o fenômeno da migração dos peixes – por causa do fechamento das comportas da UHE – poucas espécies remanescentes da lama (ou provenientes dos afluentes do rio Doce) conseguirão perpetuar-se na região.

O informe do Centro Alternativo informa que, já da data da tragédia (5/11/2015), a avalanche de lama matou cardumes inteiros que subiam a montante em busca de locais apropriados para fecundação e desova. Desde então, “os poucos peixes migratórios encontrados no trecho do rio Doce, próximo à barragem, não tiveram como fazer o caminho natural para a reprodução”.

“Desde aquela data, só se fala na retirada de rejeitos do rio [no lago de Candonga] e se esquece das consequências do desastre para a ictiofauna. Nada foi feito para ajudar os peixes neste período da piracema. A escada [de transposição de peixes] da UHE só funciona com o reservatório cheio. Com isso, desde o desastre, os peixes não conseguem transpor a barragem e são forçados a fazer a desova em local não apropriado”, disse o biólogo Frederico Nascimento Silva e Lima.

Ele falou ao Centro Alternativo, acrescentando que a construção de três barramentos a montante da hidrelétrica, para facilitar a retirada da lama, amplia a dificuldade dos peixes migratórios. Este problema pode causar a extinção de espécies no rio Doce”, alerta Frederico, salientando que no atual contexto os peixes migratórios que não amadurecem em seu processo hormonal consequentemente não se reproduzem.

O Centro Alternativo ouviu ainda o biólogo e professor Samuel Gomides, que já participou de pesquisas na Bacia do Rio Doce. “É difícil saber o tamanho do impacto real na biodiversidade, porque faltam pesquisas básicas para saber a composição da fauna e flora ao longo de todo o curso do rio, antes e depois do acidente. A ciência no Brasil não é e nunca foi uma prioridade para nenhum governo”, lamentou ele.

Conforme o biólogo, “são necessários anos de pesquisa para oferecer respostas seguras sobre este acidente de proporções colossais”. Ele destaca a demora em dar início aos estudos de monitoramento da fauna e da ictiofauna ao longo do rio Doce como forma de mensurar os prejuízos ambientais.

“O rio Doce tem mais de 100 espécies de peixes (mais espécies que em toda a Grã-Bretanha). Algumas dessas espécies já eram ameaçadas de extinção antes da tragédia. Não saberemos como estão atualmente as populações remanescentes, sem que haja intenso e contínuo trabalho de pesquisa acadêmica na área. Provavelmente espécies que nem eram descritas para a ciência foram extintas.”

Segundo declaração do ictiólogo Luiz Fernando Salvador Júnior ao Centro Alternativo, "o estoque de peixes migradores no reservatório de Candonga e acima dele é certamente muito reduzido". Ele avalia que, mesmo com a escada de transposição funcionando até 2015, “ainda estava muito longe de representar o papel que o rio, antes do barramento, exercia para migração dos peixes”.

Posicionamento da Semad

Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável/Semad confirmou, perante o Centro Alternativo, que desde nov/2015 o sistema de transposição de peixes está inoperante. Acrescenta que, com a construção dos barramentos pela Fundação Renova para conter rejeitos acima do lago, deve-se considerar novo projeto de transposição de peixes.

A nota da Semad ressalta que o assunto está na pauta da Câmara Técnica de Conservação e Biodiversidade (CTBio) e da Câmara Técnica de Gestão de Rejeitos e Segurança Ambiental (CT-GRSA), esta mantida pelo Comitê Interfederativo MG/ES.

De sua parte, a Renova assegurou que estuda “forma alternativa de assegurar a transposição de peixes, o que deve ser previamente alinhado com a Direção do Consórcio Candonga”. Em seguida, haverá envio de comunicado às citadas Câmaras Técnicas.

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