Luiz Carlos Itaborahy – Psicólogo: CRP 7854 * luizitaborahy@yahoo.com.br
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Seríamos meras peças de xadrez, manipuladas em um complexo jogo de interesses de quem detém o poder? Seriam a luta de classes e a busca de status social uma condição da humanidade? Por que o prazer de ver o outro sofrer? Onde ficam a nossa singularidade, individualidade e liberdade para criar uma sociedade comprometida com a felicidade?
São perguntas que me fiz ao terminar de assistir à série da NetFlix “Round 6”. As cenas chocam pela violência e por transformar brincadeiras infantis em jogos de disputa pela própria sobrevivência. Os participantes mostram seu lado mais cruel e egoísta, chegando a trapacear e assassinar em nome da sobrevivência e do prêmio. A violência é um entretenimento para quem a promove.
As relações sociais baseadas no respeito, na solidariedade e na confiança mútua não encontram lugar neste cenário. Nem mesmo a fé é suficiente para alterar o predeterminado. Esvaziamento do humano nas relações e retorno à barbárie, ao não civilizado. Manipulação de desejos e sentimentos na mais pura crueldade. Destituição de valores morais, éticos e religiosos para se alcançar riqueza.
É chocante tudo isto, mas a série é uma crítica à sociedade capitalista moderna. O que assistimos diariamente no campo social, econômico e político é retratado nas personagens e situações. Talvez vivamos em uma escravização social e pessoal voluntariamente. Seríamos, então, escravos do desejo coletivo.
Somos dotados de livre arbítrio, podemos escolher entre o bem e o mal, mas a ganância pela riqueza e o poder pode nos fazer dependentes e competitivos ao extremo. A partir daí nossas atitudes podem ser muito perigosas aos outros.
Apanhar e bater, ganhar ou perder, viver e morrer, riqueza e miséria estão de lados opostos, mas se misturam nesta sociedade contraditória em suas complexas relações. Cabe-nos uma pergunta: em que nos apegamos para nos tornarmos o que somos? Transformar o que está aí não é fácil. Podemos, no entanto, começar admitindo que existem sentimentos em nós que não são nobres, como a inveja, a cobiça, a ganância.
Talvez conhecendo o que sentimos e desejamos possamos romper com a compulsividade que nos leva a reproduzir socialmente o sistema, como parte de um inconsciente coletivo.
As conquistas alheias e honestas podem ser vistas como exemplo a seguir e nos devem encher de vontade para ir em frente, buscando em nós o que temos de melhor a oferecer aos outros. O prêmio seria a promoção de uma sociedade justa e igualitária, e assim todos nós ganharíamos.